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COLUNA | Resoluções, rentrées e reencontros

Por Jorge Rocha

Começo a escrever aqui no mesmo momento em que o Palácio da Cultura é reinaugurado e sedia o 6º FDP! (Festival Doces Palavras). Para quem ficou longos anos sem escrever uma mísera linha sobre cultura – em uma ação consciente e deliberada – e tomou a decisão de quebrar esse silêncio autoimposto agora, justo agora, esse timing é carregado de simbolismos, simetrias e significados. Assim como o Palácio da Cultura, estou de volta à esta cidade, ao jornalismo, à escrita, à literatura. Os mesmos, porém diferentes.

O que se manteve, durante esses anos, foi o incômodo de ver fechado e deteriorado um local que fez parte da construção de minhas memórias, experiências e de algumas de minhas relações profissionais. Sou mais um campista que cresceu por aqueles corredores, e a expectativa de todos nós também era crescente para estar novamente no Palácio da Cultura. Durante a reinauguração, essa expectativa era quase elétrica e, para algumas pessoas, certamente, um estranhamento somou-se a ela.

Sempre estranhamos quando reencontramos alguém que sumiu de nossas vidas por tanto tempo; somos automaticamente tentados a procurar as mesmas marcas que mantemos na memória, intocadas, sem contato com qualquer modificação que possa ter ocorrido. Fica algo que pode até parecer uma pequena decepção, justamente porque o conjunto da obra não corresponde exatamente às nossas percepções, à rigidez que tentamos impingir ao redor com nossas lembranças. Talvez um ganho importante desses primeiros dias do retorno do Palácio da Cultura tenha sido a oportunidade de entender que entrar ali de novo não significa estar no mesmo lugar.

Antes da reinauguração, andei por aqueles corredores e salas, cumprindo um dever profissional. Enquanto acompanhava conversas sobre divisões de espaços, ajustes, acertos, possibilidades e o que mais viria a habitar o Palácio da Cultura, mentalmente puxei-o de lado e cochichei, cúmplice: “bom ter você de volta, velho amigo; que novidade tem para me contar?”.

Seguimos a conversa desde então, estendendo a prosa durante o FDP – onde, veja você, reencontrei outros velhos amigos que também me contaram novidades. E essa conversa está só começando.

Créditos: Carlos Grevi