COLUNA | O concreto já rachou; a Ardósia não
Escrevo esta coluna para tentar responder, de forma satisfatória, uma pergunta que me persegue desde o começo dos anos 90: por que eu gosto tanto dessa banda campista chamada Ardósia Punk Core, ou simplesmente Ardósia?
(Nesse momento, os leitores que não botam os pezinhos para fora do território da MPB ou não descolam dos hits repetidos ad nauseam nos pubs da vida ficam sem saber do que estou falando. Come on, take my hand, como cantam os Ramones em Garden of Serenity; desçam essa escada aqui comigo, para o submundo da música alta, barulhenta e veloz que já mostro.)
Contaminados pelos três acordes do punk rock de Ratos de Porão, Ramones, Olho Seco e outros “mal elementos”, um grupo de jovens amigos repetiu aquela história clássica de montar uma banda para se divertir. Embora o repertório tivesse músicas que ouço até hoje e material autoral, Ardósia poderia ser apenas mais uma banda passageira – como foram outras à época – se não fosse por três pontos que percebi entre esses caras desde o começo. Muito além do one, two, three, four, havia ali entre eles uma junção de respeito mútuo, confiança e lealdade que eu ainda nem fazia ideia de que veria apenas poucas vezes, ao longo da minha vida, em outros agrupamentos humanos.
E esse conjunto, somado ao talento e perseverança desses músicos, fazia com que a Ardósia se destacasse no tal cenário underground. Mas sem afetação ou arrogância, autênticos e acessíveis a todo momento. Possivelmente nunca se deram conta disso, mas serviram de exemplo para um bocado de gente naquela época. Eu incluso aí nesse meio.
Com o tempo, o fim da banda e outras decisões mais, acabei perdendo contato com eles, mas estava ciente de que aquela amizade perseverava. Tive prova disso quando soube que a banda estava de volta e faria um show em setembro. Eu não poderia perder. Depois de 30 e poucos anos, Ardósia estava de volta, com Anderson Antonio (vocal) e Eduardo Ribeiro (guitarra), ambos da formação original, juntos a Juliano Rainha (bateria) e Alfieres Júnior (baixo) – grande Maestro! -, reunindo “gente das antigas” e novas gerações que sabem se divertir com barulho bem feito. Vi ali músicos de outras bandas campistas que talvez não existiriam se Ardósia não tivesse aparecido.
A banda desses meus amigos tem presença digital forte. Há a gravação de um show ao vivo no canal do Youtube da Ardósia e no Spotify da banda você pode encontrar álbuns de autorais e releituras, além de singles. Eu poderia dizer que recomendo fortemente a conferida, mas sou suspeito demais para isso – afinal, faço parte dessa irmandade aí não é de hoje.
(Mas quer saber? Vai lá ouvir. Eu recomendo fortemente mesmo!)
