COLUNA | Estamos perdendo
A frase que dá título à essa coluna foi uma constatação levemente amargurada do amigo Márcio Aquino, enciclopédia ambulante de música e contracultura, no meio de nossa mais recente conversa sobre o que é fazer arte nesta planície. A perda, a derrota, os descaminhos não se referem à produção, às manifestações artísticas, aos shows e espetáculos que envolvem produtores culturais de Campos. Dá gosto ver tanto sendo feito, com variedade e qualidade, em diversas modalidades artísticas. Um cenário bastante diferente, ainda bem, do que havia aqui quando eu mudei de cidade, 20 anos atrás.
A perda a que este meu amigo se referia é de espaços, de oportunidades, de mídias mesmo, onde possamos ir além do rasinho ao falar sobre essa produção. Há uma carência enorme de publicações que tratem com alguma profundidade o que se produz como arte em Campos. O que se vê, e quando se vê, é “apenas” divulgação – que, óbvio ululante, é necessária; mas é um momento, não é o todo do processo de formar público.
Concordo com ele. Muitas vezes, desde que voltei a morar em Campos e fui buscar me envolver novamente com a vida cultural da cidade, falei e ouvi um bocado sobre diversas formas de expressão artísticas que estão sendo produzidas aqui. Mas são conversas que se desmancham no ar, não são compartilhadas com mais pessoas, não encontram onde proliferar. Ficam restritas às mesmas pessoas que costumam trocar impressões sobre arte. E ponto. Há muito material que precisa ser publicado, como análise, como aprendizado, como ponto de vista, como crítica, como energia que faça o mundo girar.
Estamos perdendo, Márcio. E essa constatação me deixou meio triste. Até mesmo relutei em trazer o assunto para este espaço. Mas não dava para deixar quieto, não é? O combinado com a chefia do Descubra Campos é justamente falar sobre cultura na cidade. E há tanto para falar, não só anunciar. Há o que falar sobre o que se passa na cabeça do Alexandre Mury, fantástico artista de gênio artístico sólido. De Marcelle Louback, que pesquisa, estuda, respira e produz arte em um nível que me deixa boquiaberto. Dos filmes de Daniel Xexéo e Carolina de Cássia, que me levaram para mundos que, até então, eu achava que conhecia. Sobre as obras gráficas do artista visual Pablo Malafaia, que me fizeram virar fã de imediato. Da música, da bondade e do temperamento criativo de talentos musicais como Marcelo Benjá, Matheus Nicolau, Simone Pedro e Reubes Pess. Sobre as narrativas audiovisuais de Vita Evangelista e Sofia Arantes, que me surpreendem à cada camada. Dos espetáculos apresentados no Teatro Sesi Firjan, na categoria Multilinguagens, mostrando que há tanta gente boa juntando espaços e criando algo maior. Sobre rodas de samba, moshs, bailes charm e tanta diversão levada à sério.
Por mim, eu passaria o dia só bombardeando vocês com nomes e mais nomes de tanta gente em Campos que me deixa assombrado com sua produção e modo de pensar arte. Mas não seria o suficiente. O que estes artistas merecem é que suas realizações reverberem a contento.
E eu estou determinado a fazer deste um espaço onde isso aconteça.
